quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Barca

á beira-mar

onde corpos espanhóis vagam por entre a noite

o que procuro, senão quartos de torturas

submersos sob a água

a doce ilusão que ao fim do abismo

azul de anil, aos mórbidos daltônicos

doce à salmoura,

livre a profundidade

o que procurar? Senão uma infinidade

do amarelo de Picasso.


sob a sólida estrutura do catolicismo

onde os círios se mantém acesos,

o reflexo lunar se mostra

eternamente

caminho por entre ruas de portas fechadas

ora largas, ora estreitas,

para colher os frutos dourados

da terra

e sob o chão da igreja sóbria

frutos antigos, rejuvenescem.


no jardim do Éden

planto flores artificiais de bordas queimadas

e o incandescente por do sol

alastra-se

por entre as flores do jardim

na sala, onde os espelhos repelem a todos nós

onde cacos flamejam,

onde o rubro resplandece

e tudo aquece as próprias caldeiras

o que fazer?

quando fotografias desidratam a nível dos nossos olhos?


e se o vento desenhasse...

e no próprio ar, escultura de mim

e se pudéssemos tocar à majestosa arte?

e se tudo fosse ilusão ao tato humano

e se por ela

ao vento

voassem minhas cinzas

até onde iria o amor materno?

e se pelos ares, longas viagens fizesse?


à beira mar

a barca dá a partida

e leva consigo

os restos de um mundo perdido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário