quinta-feira, 17 de outubro de 2013

manifesto nº 16 (do desejo)

um segundo por favor
preciso respirar
mas o ar por aqui está rarefeito
e não consigo nessa sala, espaço para estar
e não consigo nessa mesa, espaço para jantar
na rua, espaço não há para andar
a beira do abismo, lá em baixo parece espaçoso
lá em baixo parece arejado
estou em pé, estou sentado

desejo o que está lá embaixo
ou aquilo que está tão alto, algures
ou então
não desejo mais nada
porque não sei mais o que é o desejo
e contraditoriamente desejo descobrir o que é

um segundo por favor
preciso respirar
e há tempo que não o faço
estou com a boca e nariz fechados
enquanto pinto de branco opaco as paredes do meu aquário
estou em busca do mínimo de privacidade
e de tempo
para respirar e desejar
por enquanto desejo respirar
o ar é o objeto de desejo e vou busca-lo na superfície

inspiro, expiro, inspiro
mas enquanto fazia isso tinha que andar, desviar das pessoas, olhar o semáforo, atravessar na faixa, segurar a mochila, olhar para os dois lados
e respirar mesmo
quase não o fiz

e é por isso que ando desejando o abismo
ou as nuvens
ou a grama do vizinho
ou qualquer lugar onde eu possa ser


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