sonhei que tinha pequenas asas e se as batesse podia voar
e medo não havia, era tão natural quanto andar
acordei e olhei na janela
do alto do terceiro andar
desci e tentei correr correr
no entanto não sai do chão
voltei e procurei por toda a casa a pequena asa
elas não faziam parte do meu corpo, eram um acessório
mas nesse estado de confusão que se encontra a minha casa e a minha alma
nada se pode encontrar
mas sei que elas estão algures
de tanto procura-la por todas as dependências da casa
e imaginar sua forma, como ela se encaixa em mim
sua cor e textura
essa asa começa a existir dentro de mim
uma gravidez psicológica
e agora, dia sim dia não ela nasce
exatamente como no sonho
nas ruas e praças todos andam, mas eu posso voar
só eu, pelas ruas e telhados
e ao fim de cada dia sim
as asas caem
eu as guardo para o dia seguinte
e no dia seguinte procuro por toda casa mas não lembro onde guardei
então imagino como elas são, cada detalhe
e no dia que segue elas nascem novamente
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